Casos Clínicos 2015 Infeção fulminante pós-esplenectomia: A importância do reconhecimento e atuação precoces Catarina Mota1, João Colaço2, António Messias2 1 Serviço de Medicina, Centro Hospitalar Lisboa Norte | 2 Serviço de Medicina Intensiva, Hospital Beatriz Ângelo Resumo A infeção fulminante pós-esplenectomia é uma forma de sépsis rara mas rapidamente fatal, ocorrendo em doentes cirurgicamente esplenectomizados ou com asplenia funcional no contexto de diferentes patologias. Encerra uma mortalidade elevada que pode chegar a 70%, tendo como principais agentes etiopatogénicos as bactérias capsuladas, em particular Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis. A rápida identificação dos doentes em risco de desenvolver infeção fulminante pós-esplenectomia, o conhecimento adequado da entidade e sua evolução e uma atuação clínica assertiva são os pontos fundamentais para o sucesso do tratamento, podendo tornar positivo um outcome por regra desfavorável e reduzir marcadamente a mortalidade prevista. Os autores apresentam dois casos ilustrativos da apresentação inespecífica e da evolução fulminante da infeção fulminante pós-esplenectomia, enfatizando a necessidade de um reconhecimento precoce e de uma intervenção rápida e dirigida na presença desta entidade. Introdução Caso clínico 1 Nos doentes cirurgicamente esplenectomizados ou com Doente do sexo feminino, de 35 anos de idade, esplenecasplenia funcional, a ausência de baço compromete uma adequada resposta imune e propicia o desenvolvimento de uma forma de sépsis rara, grave, de evolução rápida e frequentemente fatal, a infeção fulminante pós-esplenectomia (OPSI).1 As bactérias capsuladas, em particular Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e Neisseria meningitidis, são os principais agentes etiopatogénicos associados a esta entidade, apesar de muitos outros terem sido descritos na literatura.1,2 A identificação precoce dos doentes em risco de desenvolver OPSI, o conhecimento adequado da entidade e uma atuação clínica dirigida e adequada à evolução potencialmente fulminante do quadro são pontos fundamentais na abordagem desta patologia, podendo reduzir de forma significativa uma mortalidade prevista de 70%.3 Os autores apresentam dois casos ilustrativos da apresentação inespecífica e da evolução fulminante da OPSI, enfatizando a necessidade de um reconhecimento precoce e de uma intervenção rápida, dirigida e assertiva na presença desta entidade. tomizada aos 27 anos em contexto de púrpura trombocitopénica imune, foi admitida no Serviço de Urgência Geral por uma quadro inespecífico de mal-estar geral, distermia, dor abdominal difusa, náusea, vómitos e diarreia com 24 horas de evolução, que progrediu em poucas horas para prostração intensa. Na observação apresentava-se prostrada, taquipneica com saturação de oxigénio de de 70% em ar ambiente, sem pressão arterial mensurável, oligoanúrica, com livor generalizado e lesões petequiais dispersas pelos membros. Analiticamente, destacavam-se os valores de leucócitos 11,9 x 109/L com neutrofilia e linfopénia absolutas, plaquetas 32 x 109/L, tempo de protrombina (TP) 42,7/12;0 s, tempo de tromboplastina parcial ativada (aPTT) 132,1/35,0 s, creatinina 2,96 mg/dL, ureia 71 mg/dL, aspartato aminotransferase 74 U/L, alanina aminotransferase 77 U/L, gamaglutamil transpeptidase 164 U/L, fosfatase alcalina 129 U/L, bilirrubina total 1,76 mg/dL, lactato desidrogenase 550 U/L, proteína C reativa 10,18 mg/ –9–
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